segunda-feira, 14 de maio de 2012

CPI do Cachoeira pode quebrar sigilo telefônico de mulher de Gurgel




LUCIANA COBUCCI
Direto de Brasília
Entre os 171 requerimentos que aguardam para serem votados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga a influência do bicheiro Carlinhos Cachoeira está o que pede a quebra do sigilo telefônico da subprocuradora-geral da República, Cláudia Sampaio. Mulher do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, Cláudia é acusada de omissão no recebimento do inquérito da Polícia Federal sobre a Operação Vegas, em 2009.
O pedido partiu do senador Sérgio Souza (PMDB-RR) e abrange ligações feitas e recebidas por Cláudia a partir de 21 de maio de 2009. Segundo o senador, o delegado federal Raul Marques de Souza, responsável pela operação, disse à CPI que enviou os autos à subprocuradora, que não tomou providências a respeito.
Também entre os requerimentos constam dois que convocam o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), para explicar suas relações com o ex-diretor da empresa Delta Fernando Cavendish. A empresa é suspeita de injetar dinheiro em pelo menos três empreendimentos de fachada comandados pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. A próxima reunião de votação dos pedidos está marcada para a manhã de quinta-feira.
O bicheiro foi convocado para prestar depoimento no Conselho de Ética e pela CPI. No entanto, de acordo com o advogado de defesa de Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos, caso não seja acatado pedido feito do Supremo Tribunal Federal, de acesso aos documentos do processo, o contraventor deve se manter em silêncio ou nem mesma comparecer à sessão.
Na quarta-feira, a CPI se reúne para ouvir os procuradores Daniel de Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira, que participaram da Operação Monte Carlo.
Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

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